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Cena da ópera "Piedade" no Teatro Colon (Foto: Máximo Parpagnoli). No detalhe, João Guilherme Ripper

| Vem aí um ano repleto para João Guilherme Ripper: com estreias e mandato na ABM

11/12/2017 - Por Luciana Medeiros

O compositor carioca, que assume a presidência da Academia Brasileira de Música em março, está compondo nova ópera e encenando sua versão de câmera de "Piedade" no Rio. E tem bis da montagem no Teatro Colón.

 

O ano de 2018 já começou para o compositor João Guilherme Ripper.  São muitos projetos musicais em curso de realização. E mais: na quarta-feira, dia 6 de dezembro, oficializou-se:  ele assume a Presidência de Academia Brasileira de Música, mandato de dois anos que se inicia no dia 5 de março.

Além disso, estreiam no Rio dia 14 de dezembro a Suite de sua cantata Natividade, composta para o Teatro Amazonas, com a Orquestra da UFRJ na Sala Cecilia Meireles; sua ópera Piedade ganhou nova temporada  no Teatro Colón, onde foi o primeiro brasileiro a ter obra lírica montada. O compositor garantiu a chegada de Piedade, finalmente em formato encenado, ao Rio; e está escrevendo aceleradamente uma nova ópera que terá sua estreia no Festival Amazonas 2018, em parceria com um grupo português de percussão e o governo da Indonésia.

Com todo esse trabalho, ele não parece estressado, mas entusiasmado.

– E ainda estou negociando a encenação da minha ópera Domitila em Lisboa, na passagem dos 220 anos de nascimento de D. Pedro II, que para eles é D. Pedro IV – conta. – A Petrobras Sinfônica também vai tocar trechos de Piedade esse ano, estou preparando uma transcrição para o formato orquestral.

A apresentação de quinta, 14, tem Ernani Aguiar à frente da Orquestra da UFRJ. O programa homenageia os 250 anos de nascimento do Padre José Mauricio e faz a estreia carioca das Suites, que já foram tocadas em Belém com a Sinfônica Carlos Gomes sob regência de André Cardoso.

– Vai ser muito bom ouvir a música na época para a qual ela foi feita, o Natal – observa o compositor.

Piedade em três tempos

O mês de agosto de 2018 levará de volta ao Colón a ópera Piedade, onde foi montada esse ano e representou a primeira produção de um brasileiro no mais importante teatro argentino. O libreto dramatiza o triângulo amoroso entre o escritor Euclides da Cunha, sua mulher Anna e o cadete Dilermando de Assis, que termina em sangue. É uma “tremenda oportunidade”, diz Ripper.

– Repito as palavras da solista, Laura Pisani: numa ópera contemporânea, é muito difícil fazermos duas temporadas consecutivas, podendo aperfeiçoar e trazer mais nuances à montagem. Estou muito orgulhoso.

Os cariocas também verão em novembro a montagem de câmara de Piedade, obra originalmente encomendada pela Orquestra Petrobras Sinfônica em 2012 e que foi feita aqui em concerto semi-encenado.  A nova produção, brasileira, ocupará a Sala Cecilia Meireles, com direção cênica de Daniel Herz e direção musical de Priscila Bomfim. A própria Opes também toca uma versão orquestral de parte da ópera em agosto, num de seus programas.

Gamelão indonésio

O mapa múndi de Ripper, além da Argentina, está abraçando Portugal e a Indonésia – desde maio do ano passado, quando ele montou a ópera Onheama, com temas amazônicos.  Além de trabalhar para colocar em cena sua Domitila, solo de soprano escrito em 2000, está trabalhando num projeto singular: uma produção em parceria com um grupo de percussionistas portugueses que tocam um instrumento típico da Indonésia: o gamelão.

A lava azul

– Na verdade, é um conjunto de instrumentos de percussão, incluindo metalofones, gongos, uma verdadeira instalação – explica. – O argumento da história veio do grupo e me entusiasmei. Colocamos o embaixador da Indonésia, Toto Ryanto, em contato com o governo de Manaus, através do empenho de Luiz Fernando Malheiro, diretor musical do Teatro Amazonas. E a ideia fluiu. A ópera se passa em torno de uma mitologia trabalhada com tintas de ficção, envolvendo um vulcão que expele uma lava azul, carregada de enxofre; mineiros que morrem pela exposição ao produto; deusas, luta política.

A ópera vai se chamar Kawah Ijen , nome do vulcão de bela e mortal lava azulada. A cooperação das duas regiões se estabeleceu para além da montagem.

– O contato com o embaixador Ryanto rendeu um laço de cooperação entre a Amazôna e a Indonésia – conta Ripper. – O Teatro Amazonas vai receber um gamelão especialmente construído, um presente do governo de lá. Haverá, no Festival de Ópera, uma Casa da Indonésia, e o estado vai retribuir com uma Casa Amazônia em Jacarta. As duas regiões, aliás, ficam mais ou menos na mesma linha equatorial.

ABM

E nisso tudo, ainda haverá tempo para o trabalho administrativo e conceitual da Academia Brasileira de Música?

– A casa de Villa-Lobos e da música de concerto no Brasil é muito importante. Minha ideia é seguir expandindo nossas fronteiras pelo mundo virtual, mobilizar ferramentas de hoje como as plataformas digitais – assegura. –Temos projetos de sucesso como o Banco de Partituras, que foi um salto na divulgação da música brasileira e no acesso de músicos e estudiosos.

Amparada financeiramente pelos recursos dos direitos autorais de Villa-Lobos, a Academia prepara uma transição.

– Queremos também buscar recursos em editais e leis de incentivo para ampliar nossa ação, além de seguir numa gestão patrimonial que assegure a permanência da ABM depois de 2030, quando termina o repasse dos direitos autorais de Villa-Lobos, nos 70 anos de sua morte.

 

Serviço
Série Sala Orquestras
Quinta-feira, 14/12/17, 20h
Sala Cecília Meireles – Rua da Lapa, 47 – Lapa
Tel.: 21 2332-9223
Capacidade: 670 lugares
Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia)
A venda na bilheteria da Sala Cecília Meireles ou pelo site www.ingressorapido.com.br

PROGRAMA

João Guilherme RIPPER

Natividade – Suite Sinfônica: I – Presépio, II – Balé dos Anjos, III – Festa dos Pastores, IV – A Viagem dos Reis Magos, ​V – Paz na Terra, ​VI – Natal​

José Maurício Nunes GARCIA

“Qui sedes” e “Quoniam” (ACLOP) para barítono e orquestra – ​Solista: Inácio de Nonno​

Missa a 4 em Mi bemol CPM 116 – ​Solistas: Maíra Lautert (soprano), Jaqueline Resende (soprano), Guilherme Moreira (tenor), Inácio de Nonno (barítono)​

Reconstrução do baixo instrumental: Sérgio Di Sabbato

Coral Brasil Ensemble – UFRJ e Solistas
Regente do Coral: Maria José Chevitarese