| Paul Hindemith ou um compositor injustiçado
O livro, lançamento da editora Tipografia Musical, joga luz sobre o compositor, violinista, violista, regente, teórico musical, professor e agitador cultural "injustamente esquecido", segundo o autor
Um dos mais ardentes defensores da música de Paul Hindemith (1895-1963) foi o pianista canadense Glenn Gould. Sua gravação integral das Sonatas para piano do compositor alemão, lançada apenas 10 anos após a morte de Hindemith, trazia um texto que tentava explicar por que, já naquela época, se tocava tão pouco sua música: “Depois que Robert Craft forjou o eixo Stravinsky-Schönberg nos anos de 1950, e que o ecletismo dos anos de 1960 aliviou a austeridade serialista da década anterior, as bolsas de apostas do mercado futuro sobre a música de Hindemith foram atingidas pelo pânico da venda. E é compreensível que nos anos de 1970, a década repleta de ‘ismos’, seu valor de mercado tenha sofrido consideravelmente.”
Passados 45 anos do artigo de Gould e quase 55 anos da morte do compositor, a situação pouco mudou. Apesar de ser bem representada pelo catálogo fonográfico, a música de Hindemith continua a ser pouco ouvida nas salas de concerto ao redor do mundo. E qual a razão disso?
Se Hindemith não correspondeu ao revolucionário musical que dele se esperava na juventude, os anos de vida e o amadurecimento artístico o tornaram um legítimo herdeiro da tradição da música alemã e um dos mais importantes sucessores da longa linha de mestres que inclui Bach, Beethoven, Brahms e Wagner.
Paul Hindemith é daqueles compositores difíceis de serem rotulados. Na juventude passada na República de Weimar, não se engajou politicamente, como Kurt Weill ou Hanns Eisler, nem abraçou o dodecafonismo tão intelectualizado da Segunda Escola de Viena, experimentando todo tipo de influência musical que tornou a “Berlim dos anos 20” uma das cidades mais interessantes para se estar no início do século passado.
Em 1927, começou a lecionar na Academia de Música de Berlim, pondo em prática projetos que continuam a ser discutidos nos dias de hoje, tais como aproximar o público da música de concerto ou estimular a prática de música de qualidade.
Quando Hitler subiu ao poder em 1933, sua música, apesar de soar cada vez mais bem-comportada, foi taxada de “degenerada” pelo Reich, passando a ser proibida na Alemanha.
E então? Deve um artista continuar a se dedicar exclusivamente à sua arte enquanto tiranos ditam as regras? Como criar livremente se não se pode ser livre?
Foram esses dilemas que Hindemith expôs na belíssima ópera Matias, o Pintor ao retratar a vida do pintor Matias Grünewald, pego no meio do conflito entre a aristocracia católica e os protestantes durante a Guerra dos Camponeses. E assim como Grünewald, Hindemith optou por continuar a ser artista e cidadão, opondo-se à sua maneira ao status quo, mesmo que isso significasse sair da Alemanha, o que ocorreu em 1938. Essa relação entre artista e sociedade passará a ditar os rumos de sua vida, mesmo que todo o resto, incluindo a vanguarda, passasse a ser irrelevante.
Após um período na Suíça, foi para os EUA, onde desenvolveu uma importante carreira acadêmica em Yale. Com o final da Segunda Guerra Mundial, quis retornar à Europa, “imaginando” que pudesse auxiliar na reconstrução musical de seu país. Quando chegou à Suíça, em 1953, a vanguarda, para quem Hindemith torcera o nariz, o tratou como uma figura anacrônica, cuja música soava extremamente datada.
Paul Hindemith: músico por inteiro busca resgatar um pouco da vida e da obra desse interessante artista alemão que foi compositor, violinista, violista, regente, teórico musical, professor e agitador cultural. Um dos nomes mais importantes da música de concerto do século XX, hoje injustamente esquecido.